Independente do cenário no qual uma obra está inserida, as empresas que as administram enfrentam problemas diariamente e não sabem dizer de onde surgem situações como gastos excessivos, atrasos ou acidentes. E não seria diferente nas estradas. Muitas vezes, os empecilhos acontecem diante de uma escassez de planejamento e acompanhamento da obra, atividades que fazem parte do que chamamos de gerenciamento de obras. Os problemas gerados por essa falha têm grande impacto no andamento da obra, e por isso empresas devem estar atentas aos sinais de que algo precisa ser feito ou mudado.
Gerenciamento
Comentamos duas principais vertentes da gestão de obras: planejamento e acompanhamento. Mas o que ela engloba dentro do modal rodoviário? Bom, o que faz essa atividade tão importante é justamente o fato de ela cobrir desde uma atualização diária sobre se a mão de obra está utilizando EPIs
(Equipamentos de Proteção Individual) a uma lista orçamentária de todos os materiais por etapa, incluindo o acompanhamento da previsão do tempo para evitar atrasos imprevistos: são diversas atividades.
Mesmo que um gerenciamento mal feito seja capaz de até dobrar o tempo de uma obra, poucas empresas dão a importância necessária à atividade. Um dos motivos para isso, além da falta de conhecimento sobre sua importância, é a necessidade de tempo e investimento para obter sua plena qualidade. Para dar os primeiros passos a fim de uma boa gestão, precisa-se investir em capacitação e preparo de seus funcionários, além de tecnologias que a facilitem, claro. Hoje, grande parte do processo é feito de forma manual nas rodovias Brasil afora, e o que é pelo computador depende muito da capacitação dos funcionários para organizar e gerir uma grande quantidade de dados, o que é comum em rodovias extensas.
Para obter sucesso, assim, o gerenciamento deve vir primeiro de dentro da empresa, obtendo bons profissionais e motivação entre eles. A partir do gerenciamento empresarial, parte-se para o gerenciamento de obras e execuções, que é nada mais do que uma gestão a fim de realizar a obra no menor tempo possível, na melhor qualidade e no menor custo.
Sinais
Segundo o último Fórum Econômico Mundial, o Brasil ocupa a posição 113 de 137 países no Ranking de Qualidade das Rodovias. É um valor preocupante por si só, e ainda mais pelo fato de 70% da distribuição de insumos e produtos e 90% do transporte de pessoas passar por ali. A maioria das estradas foram construídas nos anos 60 e já ultrapassaram sua vida útil há anos, porém permaneceram sem manutenção, precisando, às vezes, não só dessa atividade mas uma reconstrução inteira para melhorá-las. Além da carga histórica, os problemas gerados pela falta de gerenciamento de obras rodoviárias formam um ciclo que piora cada vez mais, e uma “bola de neve” que impacta diretamente outros problemas aqui já discutidos, como o transporte de cargas
e sua questão econômica e as multas
para as concessionárias.
As obras às quais nos referimos têm longa duração, envolvem grande número de profissionais e têm alto orçamento. Por isso, qualquer indício de problema na gestão, por mais que pareça pequeno, faz um grande impacto. A fim de ajudar a localizar e solucionar esse problema, citaremos alguns sinais de percepção de que esse processo precisa ser melhorado.
- Atraso nos prazos contratuais
É o principal ponto que assola grande parte das obras. Ocorre por diversos fatores, como o atraso dos materiais, condições climáticas desfavoráveis, problemas com a mão de obra contratada ou falta de orçamento. Porém, para evitá-lo, existe um caminho principal: o planejamento. É necessário ter um cronograma de obras com datas e acompanhar este periodicamente, também cruzando-o com o previsto no contrato. Recomenda-se deixar uma “sobra” de tempo para as tarefas mais importantes e que podem ser mais suscetíveis a imprevistos, mas com atenção ao contrato para não ultrapassar prazos e acabar levando multas.
- Custos acima do previsto
A principal causa do abandono de obras hoje é a falta de orçamento. Porém, caso isso aconteça, a empresa vai descumprir o contrato e trará ainda mais problemas. Ter um controle sobre cada atividade, seu tempo de execução e materiais que necessita é essencial para evitar isso. Também é importante ter um gerenciamento de riscos, e em toda obra de grande porte mais sujeita a imprevistos é necessário prever um fundo de reserva.
- Falta ou atraso de entrega de materiais
Esse problema resulta da falta de uma planilha orçamentária bem definida e organizada. Hoje a grande parte dos materiais já pode ser prevista antes da obra. Assim, é de extrema necessidade ter um cronograma de compras com base nessa planilha, e constantemente comparar o avanço da obra com o cronograma, confirmando a chegada dos materiais e fazendo o pedido dos novos com a antecedência necessária. Muitas vezes, a falta de materiais por falta ou atraso dos pedidos acaba por deixar a mão de obra parada, o que logicamente vai atrasar e trazer mais custos, visto que posteriormente terá de ser pago hora extra.
Um outro erro relacionado a isso é comprar demais ao início da planilha orçamentária, devido ao menor custo em quantidade. Porém, a empresa precisa estar atenta à capacidade dos seus locais de armazenagem. Pode acontecer de a quantidade de material exceder, e então ter que deixar o material em local provisório e de difícil controle.
Para saber mais leia o post: Saiba como a gestão de suprimentos pode te ajudar na sua obra
- Falta de comunicação e problemas com funcionários
Não adiantaria investir em controle, organização e tecnologia se os profissionais que irão manusear essas ferramentas não estiverem aptos e motivados. Por isso, além das melhorias, os recursos humanos, capacitação e treinamento dos funcionários também é um ponto crucial para o gerenciamento de obras. No caso rodoviário, muitos profissionais precisam se comunicar e enviar dados para os demais a longas distâncias, por isso são necessárias plataformas que integrem-os e facilitem sua interação no dia a dia.
- Acidentes e outros problemas recorrentes com mão de obra
Outro problema de grande importância relacionado ao preparo de funcionários é a questão da mão de obra. Hoje, a mão de obra pode ser própria ou terceirizada, onde a concessionária contrata uma empreiteira para o serviço. Nessa última situação, é necessário analisar sua credibilidade e atentar-se ao contrato de empreitada, para que esteja alinhado aos prazos e pedidos da agência. Além do nível de desmotivação ser alto nesse campo por conta do trabalho duro e isso ter grande impacto no andamento da obra, a pior consequência que o despreparo pode causar são os acidentes.
- Canteiro de obra desorganizado
Um canteiro de obras desorganizado é um simples espelho de uma má gestão. O acúmulo de entulhos, mistura desses com materiais e assim dificuldade de encontrá-los, são exemplos de situações que acontecem por conta da falta de acompanhamento. E, por incrível que pareça, essa desorganização têm potencial para causar acidentes no canteiro e desperdício dos materiais.
Concluindo
Em resumo, as duas vertentes que definem a atividade de gerenciar obras são: planejar e acompanhar. Mas como aplicar isso dentro da empresa?
Assegurar-se de que todas as obras prometidas no contrato são viáveis de serem feitas no seu tempo, selecionar funcionários responsáveis, planejá-las e projetá-las, montar um cronograma dessas por etapa e data, elaborar uma planilha orçamentária de materiais e mão de obra, averiguar possíveis riscos e imprevistos, atentar-se às mudanças climáticas, acompanhar e fiscalizar o dia a dia no canteiro são apenas algumas atividades principais dessa gestão que, bem feitas, irão garantir qualidade, otimização de recursos e prazo às obras.
Recomendamos começar, nas obras já em andamento, pelo problema: identificar os existentes e ver de que forma poderiam ter sido evitados com uma boa gestão, assim aplicando-a como forma de solução. Já para as futuras obras, é importante organizar-se desde o contrato inicial até seu fim. Em conclusão às recomendações já dadas, acreditamos que o caminho é investir em boas parcerias, no caso de fornecedores e empreiteiras, em bons funcionários e práticas voltadas a eles, e principalmente em ferramentas e soluções tecnológicas que facilitem e agilizem o gerenciamento e suas atividades.
Referências
https://www.e-gestaopublica.com.br/obras-rodoviarias/
https://blog.ipog.edu.br/engenharia-e-arquitetura/problemas-em-obras/
http://celere-ce.com.br/carreira/gestao-de-obras-5-erros-que-geram-prejuizos/